O que era uma “vaquinha online” que captaria dinheiro para financiar microempresárias acabou virando o Fundo Agbara, o primeiro do Brasil voltado exclusivamente a mulheres negras.
Com foco na inclusão, sustentabilidade e empoderamento de mulheres, o fundo acaba de completar seu primeiro ano. Desde que foi criado, arrecadou de colaboradores mais de R$ 100 mil, que foram distribuídos a negócios que impactaram cerca de 1,2 mil mulheres negras pelo país, direta e indiretamente.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres negras são 27,8% dos brasileiros, o que representa a maior parcela da população se considerarmos os recortes de gênero e raça. Menos da metade desse gigantesco contingente exerce algum trabalho remunerado e, além disso, as que trabalham recebem 44% do salário de um homem branco, segundo dados da pesquisa Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho, da Agência Box 1824.
Aline Odara, idealizadora e diretora-executiva do Fundo Agbara, também aponta para o histórico de ausência de políticas públicas de inclusão produtiva e empregabilidade para as mulheres negras no país, cujos efeitos se intensificaram durante a pandemia.
A vaquinha se transformou em fundo
Além da mestranda em Educação Aline Odara, o Fundo Agbara surgiu da iniciativa da publicitária Fabiana Aguiar e da socióloga Mariana Pimentel, todas elas de Campinas (SP). Acostumadas a fazer “vaquinhas” online para subsidiar algumas necessidades de estudantes universitários, custear cursos ou até pagar o aluguel, as três resolveram oficializar o uso de arrecadações coletivas voltadas às mulheres negras e criaram uma associação. Nascia assim o fundo filantrópico em setembro de 2020.
Ela conta que começou com 20 amigos, cada um doando R$ 20 por mês para ajudar uma mulher negra. Dali a cinco dias, já eram 100 doadores. Com uma campanha, dobraram para 200 apoiadores. Hoje, já são mais de 270 doadores individuais, diz Odara.
Atualmente, oito mulheres gerenciam o fundo. O apoio financeiro tem duas linhas de trabalho: um de atendimento recorrente, que atende a cada mês três mulheres de São Paulo e duas mulheres de outros estados; outro, por meio de editais direcionados, abertos para atender empreendedoras de outros estados – o próximo, por exemplo, está previsto para ser lançado dia 10 de outubro e focará em mulheres negras trans no país.
Dona da marca de moda Zwanga, em Macapá (AP), a designer Rejane Soares recebeu, em setembro de 2021, um aporte de R$ 1 mil para investir em matéria-prima para confecção de produtos e no espaço físico de sua empresa, que é usado como local de trabalho para outras 42 mulheres. Juntas, elas criam e vendem artesanatos, artigos para festas, doces, artigos de decoração, entre outros.
O fundo também provê apoio psicológico e rodas de conversa sobre vários temas acerca da realidade da mulher negra na sociedade.
Fonte: Uol